Em reunião extraordinária de ministros da economia membros do Mercosul nesta segunda-feira, 26, uma discussão clara acerca da posição de cada país sobre a função do estado na economia, de um lado o Brasil, juntamente com Uruguai e Paraguai, atualmente sob governos de direita, ambos defendem a regulação do livre comércio e a liberdade de fazer negócios com outros países/blocos relevantes, afim de sair do atual confinamento da politica estabelecida pelo Mercosul, já do outro lado temos a Argentina, atualmente sob um governo de esquerda e que defende o protecionismo e que argumenta que o mundo pós (COVID-19) tende a ser mais fechado.
Obviamente isso mostrou um choque ideológico, fazendo os ânimos se exaltarem, entre os ministros da economia brasileiro, Paulo Guedes formado pela Universidade de Chicago, berço do Neoliberalismo, onde saíram grandes nomes da economia, também conhecidos como Chicago Boys, e da Argentina, Martín Guzmán, formado pela Universidade de Columbia.
Guedes citou Adam Smith, um filósofo e economista britânico do século XVIII, mas que até hoje é o pai da economia moderna, muito respeitado por economistas de todo o mundo pelo seu posicionamento liberal. Guedes disse: “a mão invisível do mercado que permitiu a ascensão dos países asiáticos”, quando então o ministro Argentino responde “essa mão é invisível porque não existe já que por trás da ascensão econômica dos países asiáticos houve a mão do Estado.
Paulo Guedes retrucou: “Nós conhecemos muito bem os economistas que o ministro Guzmán menciona, mas mais da metade dos prêmios Nobel foram ganhos pelos economistas da Universidade de Chicago“.
MERCOSUL
Estes atritos não ocorrem só na esfera económica, ao tratar da negociação sobre o corte das tarifas do Mercosul, tema este que foi a pauta principal desta reunião, novamente opôs Brasil e Argentina, a TEC (Tarifa comum do Mercosul), está sendo discutida pelo bloco, que também é formado por Uruguai e Paraguai para tratarem de uma reforma e da flexibilização das regras que a regem.
Guedes defende um corte de 20% na TEC, em duas partes de 10% a serem ajustadas até o fim do ano, atualmente o bloco tem umas das maiores tarifas em comparação com as praticadas por outros blocos, enquanto o Mercosul tem 12,8%, a média de outros blocos é de 5,5%, o Brasil no primeiro momento defendia um corte mais brusco, justamente para estar na média praticada no mundo, mas de uma forma generalizada aceitaria estes 20%, o Brasil tem o apoio do Uruguai e Paraguai que compartilham com a visão de Guedes, mas uma oposição da Argentina, um país de peso é o bastante para que as negociações sejam bloqueadas.
Paulo Guedes destacou que o Brasil respeita as necessidades da Argentina e entende o atual contexto de dificuldade econômica do país, e que, portanto, os vizinhos não precisariam acompanhar imediatamente o Brasil e os demais sócios na aplicação de uma nova TEC. Mais uma vez foi o bastante para provocar reações nos negociadores argentinos, que destacaram que uma aplicação em momentos diferentes de um novo imposto só aprofundaria as já existentes distorções no Mercosul e, segundo Felipe Solá, as regras atuais do Mercosul não permite que um país aplique de forma independente uma nova tarifa.
Ele reconheceu que a TEC atual tem falhas, mas destacou que a proposição de Guedes significaria transformar as exceções que existem nas tarifas em regra.
Após o término da reunião, um interlocutor da casa Rosada, queixou-se da fala de Guedes, dizendo que um consenso não significa um “cada um faz o que quiser”.
Já do lado Brasileiro, o Itamaraty acredita que os Argentinos atuam para impedir as negociações para redução da TEC realmente aconteçam.
Apoiado pelo Brasil, o Uruguai defende que cada país do grupo seja livre para assinarem tratados sem o consenso dos demais membros do bloco, o que diverge diretamente com a Argentina e neste caso também o Paraguai.
Ao Argentinos alegam que assim com ao TEC, essa flexibilização das regras de negociação poria fim da união aduaneira praticada hoje pelo bloco. Já o Paraguai pelo seu leve peso político e sua fragilidade económica, tem medo de ficar de fora em futuras negociações.
Sem chegar a um consenso nestas 4 horas de reunião virtual e como fato gerador de mais uma desavença BRA x ARG, ficou marcada outra reunião na segunda quinzena de maio, desta vez, será presencial na capital Buenos Aires, mas Guedes não ficou feliz com a decisão, disse “não via sentido”, já Guzmán foi totalmente a favor.
MUNDO
Olhando para o futuro, o Uruguai trabalhou em um cronograma para culminar ainda este semestre as negociações com o EFTA (Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça) e com a União Europeia.
A agenda segue com Coreia do Sul, Canadá, Cingapura, Israel e Líbano com os quais deveria haver uma rápida finalização. Propõe avançar com Indonésia, Vietnam e países da América Central. E indica o grupo de países com os quais o Mercosul deve ter o interesse de começar a negociar: Estados Unidos, China, Japão, Reino Unido, Índia, Turquia, Nigéria, Tailândia e Malásia.
Porém, a Argentina quer se concentrar nos acordos já fechados, mas ainda não ratificados, com a União Europeia e com o EFTA. Também aceita fechar com o Canadá cujas negociações estão adiantadas. No entanto, rejeita as negociações com a Coreia do Sul, com Cingapura e com outros países asiáticos.